PPD/PSD Ponte de Lima: João Barreto em entrevista ao bissemanário Alto Minho

12 de março de 2007

João Barreto em entrevista ao bissemanário Alto Minho

Extractos da entrevista conduzida pela jornalista Paula Velho, do jornal Alto Minho, a João Barreto, Presidente da comissão Política do PSD de Ponte de Lima. (Leia a entrevista na integra, em papel, no bissemanário Alto Minho)

João Barreto, eleito líder da Comissão Política do PSD de Ponte de Lima, em Novembro do ano passado, revelou ao Alto Minho, algumas das preocupações internas do partido, bem como estratégias para contornar as actuais dificuldades. Definir objectivos e programas em que as pessoas, de facto, se revejam e "para falarmos todos a uma só voz", é o primeiro passo. Só depois "se parte para o exterior", para cativar a militância perdida nestes últimos anos.

Apesar de garantir que nunca pensou em se candidatar à presidência da câmara, João Barreto sublinha que o PSD tem muitas pessoas capazes de desempenhar este cargo, expressando ainda a necessidade do partido se fazer representar em todas as juntas de freguesia nas eleições. Um trabalho que "não se faz a 8 meses das eleições, mas a 4 anos", como sustenta.

O líder também não poupou críticas à política "obsoleta" levada a cabo pela Câmara nestes últimos 12 anos, acusando mesmo Daniel Campelo de exercer pressão sobre os membros da sua equipa, reduzindo-os a "meras figuras decorativas". A Empregabilidade e Coesão Interna são, até ao momento, as suas maiores "bandeiras".

Alto Minho - Porque se candidatou à Comissão Política do PSD?

João Barreto - A minha candidatura à Comissão decorreu do pensamento pessoal relativamente ao estado em que o partido se encontrava e da necessidade obrigatória de se fazer algo para mudar. Não propriamente por responsabilidade de quem quer que seja, mas por todo um conjunto de situações que decorreram ao longo dos últimos anos e que levaram a que o partido não conseguisse sair para fora de si mesmo.

(...)

AM - Acha que a nova Comissão Política vai conseguir "conquistar" essa opinião pública?

JB - Acho que a equipa constituída tem condições para o fazer. Se o vamos conseguir, ou não, vai depender um pouco da estratégia política do partido para o concelho e de uma dinâmica que é necessário implementar para conseguirmos que as pessoas se revejam na posição política do PSD. Há coisas na sociedade limiana que têm necessariamente de mudar e o PSD tem de ser, de algum modo, a voz da oposição, criticando o poder instituído.

AM - Concretamente, a que se refere quando diz que "há coisas que têm de ser necessariamente mudadas na sociedade limiana"?

JB - Em Ponte de Lima tem de ser mudada a política. O concelho tem uma política de há 30 anos, que é obsoleta e, de alguma forma, conservadora. Diria até que é uma política "cansada". O próprio executivo, neste momento, peca por ausência de imaginação e empenhamento. Já aí se notam alguns sinais de fractura dentro daquilo que tem sido o núcleo duro do CDS/PP, nos últimos anos. Também temos de estar atentos aos sinais da sociedade civil. E o que se nota é algum desencanto pela política que tem vindo a ser seguida.

(...)

AM - Na sua opinião, como é que isso (mais emprego) se consegue?

JB - Obviamente as coisas não caem do céu. Num mundo global, é necessário apostar na captação de empresas que invistam em Ponte de Lima. Isto obriga a ter um plano estratégico, que o município não dispõe. Temos apenas dois parques pretensamente industriais, um na Gemeira e outro - que ainda é futurologia - em Anais. O da Gemieira é um mar de mato e tem meia dúzia de armazéns. Vamos tentar fazer uma avaliação daquilo que foi o investimento municipal - aliado a financiamentos comunitários - na criação desta infra-estrutura e como isso se traduz em número de empregos criados.

AM - Quer com isto dizer que a política empresarial adoptada não é a mais correcta?

JB: Quando o IC28 e a A27 (antiga IP9) foram projectados, devíamos ter aproveitado um conjunto de acessibilidades que foram criadas na margem direita do Lima, em Arcozelo, pois as empresas vêm para os locais estratégicos. O planeamento empresarial esteve até agora perfeitamente errado. A zona industrial da Gemieira fica fora de todo o circuito, não sendo a ideal para captar empresas.

AM - E qual é a fórmula ideal para "captar empresas"?

JB - Os postos de trabalho decorrem das empresas, e há que fazer um esforço de captação das mesmas, deixando-nos um pouco daquilo que tem sido a política municipal, ou seja, anunciou-se a Cobra e o IKEA, mas depois diz-se que quatro IKEAS não valem o sarrabulho. Houve uma política que foi adoptada, mas que não deu frutos, e depois atiram com poeira para os olhos.
Só não vê quem não quer. Os Arcos de Valdevez, por exemplo, tem piores acessibilidades, mas possui duas áreas industriais completamente cheias e está a investir numa terceira, porque há uma política de captação de empresas. Não chega dizer que a câmara isenta as empresas de derramas e lhes dá benefícios fiscais por essa via. Há que oferecer condições de instalação. É necessário dar os incentivos para a sua fixação.

AM - Para além de uma aposta empresarial, que alternativas/estratégias aponta para criar mais emprego e fixar jovens?

JB - Seguidamente temos de articular a formação profissional, na medida em que, se a mão-de-obra não estiver minimamente qualificada, é natural que vão à procura de lugares onde ela exista. As iniciativas para ajudar a juventude a construir a sua própria empresa representam outra alternativa. Contudo, não há nenhum programa do município para incentivar os jovens a criarem o seu próprio posto de trabalho. O que quer dizer que alguma coisa está mal.

(...)

AM - Ao conseguir maior coesão política, acha que isso se vai traduzir em melhores resultados?

JB: Vamos tentar. Acho que, os sinais que levamos neste pouco tempo à frente do partido são positivos e dão-nos alguma esperança. Uma das preocupações é reestruturar e criar uma dinâmica nova no seio do PSD.

AM - Quando refere "reestruturação" já está a incluir a juventude?

JB - Claro. O futuro faz-se com os novos e através deles. Esta Comissão já tem um conjunto de jovens, para que também sintam que o partido se faz na renovação e para que possam ir colhendo, com a sua participação, ensinamentos, pois amanhã eles vão ser os responsáveis políticos. A JSD é uma estrutura com bastante dinamismo, mas que não teve a oportunidade de se fazer ouvir devido a essa dificuldade de comunicação entre os vários órgãos do partido. Queremos que a juventude participe cada vez mais, que sejam actores activos.

(...)

AM - E o que faz falta para que o PSD ganhe?

JB - Para isso acontecer é necessário criar as condições. Não chega um golpe de magia. Há todo um trabalho de base, junto da opinião pública que tem de criar uma consciência na sociedade limiana que o PSD pode ser uma alternativa séria, credível e capaz de assumir a governação e os destinos de Ponte de Lima. Isso obriga a um trabalho muito grande.

AM - Acha que é possível derrubar o CDS/PP?

JB - Essa é a nossa expectativa. Entendemos que as coisas não estão tão bem assim que não possa haver uma proposta que leve as pessoas a reflectir. Agora isso não se faz a 8 meses das eleições. Faz-se a quatro anos. Esta Comissão tem uma dupla responsabilidade: Unificar o partido e mostrar aos limianos que temos um projecto e pessoas para trabalharem nele. Isto tudo, sem pensarmos em nomes. Primeiro é fazer o trabalho de casa para que o partido possa aparecer e candidatar-se no universo do concelho e não apenas numa percentagem de freguesias. Uma candidatura numa junta é, por si só, uma alavanca para a votação nas listas da Câmara e da Assembleia Municipal.

(...)

AM - Esta nova Comissão Política já definiu alguns objectivos a nível de trabalho?

JB - Estamos preocupados com algumas questões, mas não podemos ser oposição pela oposição. Não podemos intervir a todos os níveis criticando tudo aquilo que é criticável. Temos de ser selectivos, sendo a questão principal a da empregabilidade. Não há uma política Cultural e Ponte de Lima já foi um importante fórum a este nível, mas esvaziou-se. Vemos que não tem havido uma política de Educação, apesar de ter sido aprovada a Carta Educativa.

AM - Uma Carta Educativa que contestou...

JB: - Concordo com a política dos Centros Educativos, não concordo é como foi implementada a rede. Ninguém pode aceitar que, antes da aprovação da Carta Educativa se construam, como o fizeram, o Centro Educativo da Ribeira e o da Feitosa. Nas franjas de Ponte de Lima criaram-se "escolinhas". A câmara não podia ter avançado antes destes "instrumentos" estarem sufragados.

AM - O que quer dizer com "Escolinhas"?

JB - Um Centro Educativo tem de ser um espaço em que as crianças possam entrar às 8 e sair às 18horas e que possibilite um conjunto de actividades culturais, lúdicas e desportivas para além das escolares. O Centro da Ribeira, por exemplo, não tem nada disso. Se um Centro Educativo se quer com princípio, meio e fim, porque é que se obriga a freguesia da Gemieira a
fechar uma escola que tem a mesma dignidade e condições de funcionalidade idênticas às do Centro Educativo da Ribeira, e não se obrigam os alunos da Ribeira, que continuam a estudar em Ponte de Lima a regressar? Foi mal planeado e o futuro o dirá.

AM - Qual é a sua opinião sobre a política de Desenvolvimento Rural Sustentável praticada?

JB - Apesar do que se continua a apregoar do Desenvolvimento Rural Sustentável, este passa antes pelo abandono generalizado da agricultura e da gastronomia. Mas temos matéria para fazer vingar uma verdadeira política, nesta área, apoiada nos produtos de qualidade. A própria câmara constituiu e tomou conta de uma Confraria, dita do Sarrabulho, e que eu saiba, fizeram
uma inauguração e um almoço na Vila Morais. A carne de porco do sarrabulho, que se serve ao fim-de-semana, vem toda de Famalicão e da Espanha. Há um défice de apoio àquilo que devia ser um Desenvolvimento Rural Sustentável.

AM - Em que outras áreas se verifica falta de apoio?

JB - Também não existe uma política para o Turismo. Não há um hotel de qualidade, apenas um Turismo de Habitação débil, que vive de algum património histórico, como é o caso das casas senhoriais. Relativamente aos supermercados, Daniel Campelo tomou, há anos, uma atitude radical ao afirmar que cá nunca se instalariam médias ou grandes superfícies e agora, de um momento para o outro, elas surgem como cogumelos.

AM - Qual a sua posição sobre esta última questão?

JB - Segundo um inquérito que está a decorrer, realizado pela junta de freguesia de Ponte de Lima, os comerciantes locais estão a passar um mau bocado. Isto põe em causa o emprego de muitas empresas familiares. E não há, nem houve, nenhuma atitude de tentar alterar isto, pois as duas situações eram perfeitamente compatíveis. O comércio local devia ter tido uma oportunidade de reestruturar e apostar em produtos que promovessem esse desenvolvimento rural sustentável e também implementar uma política de artesanato regional, que não existe.

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